sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Lágrimas de pai-herói

18 de setembro de 1971, um sábado. Eu tinha 11 anos.

O jornal vespertino na TV tinha chamado minha atenção com uma notícia insistente: Carlos Lamarca tinha sido morto na véspera. Capitão do Exército Brasileiro, serviu no Batalhão das Nações Unidas no canal de Suez em 1962 antes de transformar-se em terrorista procurado. Era um dia cinza, fim de inverno.

Lamarca (primeiro à direita) aparece como procurado em um cartaz

Já tinha ouvido sobre ele. Eudes, bancário, fazendo comentários sobre um Lamarca instrutor de tiro para bancários enfrentarem os assaltos constantes promovidos por terroristas. Depois fugiu com armas de um quartel e virou paradigma do enfrentamento armado ao regime militar. Algo de façanha, algo de trágico. Depois de Marighella e antes do Araguaia.

Lamarca em treinamento

Naquela noite, amigos dos meus pais confraternizaram na minha casa. Cervejas, comidinhas da minha mãe, muita conversa sobre música. Histórias, piadas. Risos. 

Inventei de entrar na conversa dos adultos. E fui falando: "mataram aquele cara, o Lamarca". "Como?" "Quem?" "Lamarca?" "Não pode ser." "Foi sim. eu vi na TV". Silêncio. Eudes, já depois de um número de cervejas, começou a lacrimejar. Evoluiu para um choro compulsivo. Os amigos sentiram. Despedidas, fim de festa. Eu sem entender. Acabei com a festa? 

Eu tinha 11 anos.



 

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